lundi, août 02, 2010

minha dança

Quando a gente se dá conta que às vezes quem se esquece do jantar somos nós...
num descompasso entre sonho e luta, obviamente que o final não seria o que se espera

enfraquece-se na dificuldade;
nos devaneios encara-se bem todo obstáculo e danço feito poesia
Aquele era meu único amor real. ali.
quando desisti do sonho poético que me fazia nascer a cada momento,
desmontei-me e criei a impossibilidade de amar.

Agora anda-se devagar, nos caminhos de frustração
entende-se aos poucos o significado de invejar, tão fraca sou
desisti de um sonho que movimentava, em todos os sentidos

A parte de mim que encantava voou
minha perfeição já não sei criar
todos os artifícios para te ganhar
jogaram fora, as artes, as partes
de que tudo tinham para dominar-te

fui entregue então como marionete
para jogadores fortes que tinham a arma do tempo
quase nunca tem-se tudo

Joguei fora tudo de belo que possuía minha alma.
Joguei fora tudo que completava meu ser;

Restei de morbidez.
Morbidez paisagem.

jeudi, juillet 15, 2010

Porque aquele é o momento em que acabavam as tentativas de união.

Acabam as possibilidades de sangue frio.

Se quer toda a efervescência desequilibrada da madrugada.

Toda a guerra de segundos para falar aquilo que nem se pensa. Não sabe nem se sente.

Só incita, só provoca. Quer ver sangue.

Mas ainda covarde, esconde-se nas madrugadas.

Como ousa?

Como ousa me abandonar mais uma vez?

Pior.

Como ousei deixar -me abandonar novamente?


na madrugada todo mundo pode tudo.

mercredi, juillet 14, 2010

Ela fez cinema




"Ela não tem amigos. Vive de rascunhar roteiros de um filme com final infeliz. Seus amores são cenas mal cortadas, seus atores se vestem mal e declarações pessoais não passam de diálogos sem improviso. Ela não tem ninguém. Suas poesias andam sem rima, sua música ficou instrumental e suas crônicas são sobre o impossível. Largou o cigarro e isso a tornou mais chata do que a própria ignorância que ela mesmo estabeleceu por querer amar demais. Como se ignorância fosse amor. Pudera, quem vive de cinema escolhe a sua própria tragédia. E a dela foi ser incompreensível como mulher. Ou uma doméstica de pornochanchada."


Marcelo Mayer

vendredi, juillet 02, 2010

Rosa era de pouca inteligência.
Escutava sempre o que tinham a dizer, e com suas poucas informações ia construindo pensamentos pra quando chegasse para arrumar a casa.
Fazia faxina às terças e quintas na casa de uma senhora bonita, madame meio viúva, que se encontrava com moços estranhos.
A madame tinha várias amigas, e dentre elas, uma ruiva estranha que estava sempre a sua casa, sassaricando e atrapalhando-lhe o serviço.
Ouve as duas mulheres, que, ao trocar palavras, gritavam, isso que tanto a Rosa irritava.
Diacho de velhas que gritavam.
Rosa era humilde mas não falava alto não.
Ela era toda receptada em sua fragilidade.

'Pois não, Bela, se aquela mulher de pouca fé não andava de falâncias sobre sua pessoa por aí.. numa falsidade só.'
Subira rapidamente à cabeça de Rosa aquela reclamação aparentemente tão repleta de lógica.
Mas guardou como dever de casa. Não conseguia fazer duas coisas ao mesmo tempo.
Aquele assunto renderia na arrumação do dia, pois já cutucava a moça, que não conseguia pensar em outra coisa.

'Rosa, menina, se quebras outro vaso meu ponho-te para fora! E dessa vez, cumpro, vice? Tiro de seu salário esse'
Era por isso que a faxina não podia ser atrapalhada por devaneios.
Que raiva tinha ainda daquela madame desocupada que só sabia falar alhos alheios.

Foi terminando o serviço, caprichou em tudo e pegou suas economias de muito tempo que estava para comprar sapatos novos, rasgados que estavam.
Não, fazia parte da construção daquele dia único o pagamento de toda e qualquer dívida com aquela velha mal criada.
Seu pensamento dali em diante devera fluir somente para a irracionalidade das mulheres que conversavam naquela tarde.
Ela precisava pensar sem que interferência alguma houvesse. E, portanto, foi pagando tudo, o que assustou a patroa.
'Patroa não, faxineira que sou...Trabalhadora liberal. E esse dinheiro tenho guardado. Pegue logo senão não hei de pagar. Procurarei outra residência, não de voltarei mais a esse lugar'

Quando fechou os olhos, minutos antes de sair da casa que despertara tamanha mistura de sentimentos, Rosa imaginou fumaça
Desejava um cigarro, achava aquilo tão chique, seu pensamento pobre sairia daquela maneira um pouco mais importante.
Sentou-se na rede limpinha de sua casa - não tinha de fazer, lavava tudo.
E começou a refletir sobre aquela palavra ainda pouco estudada: falsidade.

Tão teoricamente lhe aparecia a ideia de que só aquilo construía a rápida felicidade, que faz a nós capaz de suportar a vida
nos dá ilusória perspectiva de um relacionamento não extraviado, mas viado duplamente, como numa métrica musical soante.
Aquilo que quebra todos os paradigmas e nos proporciona a necessária segurança de que precisamos em determinados momentos da vida.

Quando vem a nós a verdade, que esta má, fere à frio, estamos lá, postos a reclamar da falsidade.
Única que, há pouco, nos deu aconchego ao coração para que aguentássemos a lástima férvida da vida.
Parecia-lhe tão óbvio. Assim como que fumar houvera feito causado uma terrível doença de tosse. E rápida.

Ora, se para reclamar do que nos faz continuar deve haver sentido grande...

Assim terminava seu breve devaneio diário.
Rosa pôs-se a jogar fora aquela caixa de cigarros mas hesitou.
Prudente que era, guardou em seu armário, custara-lhe dinheiro.
Tentaria elevar-se outros dias com aquela sórdida companhia da fumaça rica...

vendredi, juin 11, 2010

recado para alguém especial

Talvez não seja você nunca aí. E fica claro ao ler acerca do seu ser descrito aos poucos nesses diversos personagens sobre os quais escreve inopinadamente numa espécie de mosaico autobiográfico.
Pode ser que haja compreensão para todo intelecto humano, mas jamais para as sensações destituintes e construintes de uma alma.
Mas saiba: a intenção maior da realização que se faz aos poucos nessa descoberta do si – a escrita - é de uma aceitação daquilo que se sente de maneira confusa. Escrevendo se tira de dentro e organiza-se pouco a pouco as sensações. Por isso a corrida desenfreada por novas palavras, que nos traz uma ilusória capacidade de exprimir algo para sempre inextricável. (Faça um exercício. Em poucas palavras, cotidianas, mostrar a intensidade do que se sente ao ser.)
Mas tristeza maior é pensar que, ao descobrir-se não ser alguém “daqui”, descobre-se concomitantemente um ser que nunca sairá de dentro de ti. Um mistério obscuro e covarde. Que instiga, vomita partes de alma, mas nunca sairá por completo de dentro. Toma ações em nosso nome, por nós, perfeitos em corpo, em tese, em inteligência. Nos trai. Pois não se forma por completo em nosso humano. Aí está nossa mais humilde fraqueza. Nossa discordância. A incoerência de um menino normal e lindo como você que mergulha nas profundezas de um ser que te afoga. Afoga a todos nós. Ninguém se torna capaz de lê-lo. Ninguém é capacitado a ter uma compreensão isenta de julgamento. Então é preciso força. Mas parte de nossas almas é covardia. É uma luta contraposta. Que, espero eu, não acabe nunca.

Sorte. Amor.
Já dizia Nietzsche, "quem sabe sofre".

mercredi, juin 02, 2010

no avesso de mim

por mais marginal seja alguém capaz ser
ninguém escapa do peso das imposições do alheio.

sempre montei-me no alheio
no amor que doava a eles - a você - no cuidado, no pensamento
por isso então quanto mais afundava-me em minha descoberta, mais pecava pela falta de coerência ao olhar do outro.
a alma gritava de dentro da pele por espaço próprio em minhas ações.
que saíam sempre naquilo que chama-se de impulso vital.
aquilo que manteve-me viva nos últimos meses
chorando com os julgamentos e gozando do prazer que só pudera aquela liberdade proporcionar.
fazia confusão das mentes que acompanhavam aquelas manobras da sórdida realidade que houvera antes eu escolhido
era irracional. mas tão humano, intenso e relativo a relações...

agora o que mandaram-me fazer é ser individual.
cuidar do si, manifestar ideias liberais, sem que haja pré julgamentos ou conceitos quaisquer
viver deleitando prazeres próprios, mas com a responsabilidade do egoísta, que nunca é senão racional
está certo que isso todos deveriam fazer...
mas viver para mim nunca foi viver, a meu ver
meu espaço de alma sempre foi somente a escrita
o resto era tempo alheio.
agora devo preocupar-me então com meus estudos, com minha saúde, minha familia, meu corpo.
vou preenchendo então meu dia de primeira pessoa no singular que sufoca.
desmaio e peço ajuda.
me fale seus problemas, quero ouvir.
não vou ajudar-te, posso até decepcionar. mas me deixa tocar.

preciso encostar no outro. e não sei se fujo assim do mim.
sei apenas que presente, as duras asas da borboleta vão fracas e egoístas
buscam campos, companhias, para assim completarem-se aos poucos, numa ilusão bonita.
- se bem que nisso quase já perdi-me.
as relações já começam pelas metades, assim sendo vê-se pouca entrega.
eu, por exemplo, quase já não me decepciono - as poucas pessoas encarregadas desse papel já o cumpriram muito bem.
quando deparei-me então com dessemelhante realidade aos poucos construída, encontrei comigo somente o si.
e agora é viver de mentira. de individual. de si.
de metades.
sem amanhã. isenta de perspectivas. sonhos. amores ou decepções.

lundi, mai 31, 2010

me ajuda.
o que houve dessa vez menina?? tenho muito a fazer aqui dentro.
na verdade não sei, não sei...
então não me faças perder tempo nesse diálogo despropositado, que meu serviço chama a todo momento.
mas isso tem que passar.
tomou seu remédio?
tomei.
aconteceu alguma coisa hoje pra assim estar?
não. não aconteceu nada.
é aquela angústia, falta de sono, pensamentos ruins?
não.
como quer ajuda se nem tu sabes o que quer que seja? com sua licença, moça.
não... por favor, volte. sei que não posso continuar caminhando. minhas pernas pedem apoio.
mas isso dai nao é função minha não, querida.
eu sei doutor... mas é que...
sem mais. você assim está por invenção que não vem de mim. sempre foi assim.
como pode, com tamanha sapiência que possui, duvidar de tal maneira do que sinto eu?
ah, mocinha. tu és muito complicada.
não. não sou. o que sinto é que é.
então é você, vice.
mas é claro que não! não fui eu. tentava descomplicar tudo ai dentro quando ainda mais me perdi.
hum.. começou.
me ajuda. não sei o que sinto. você está ai dentro. é mais fácil, vai.
sou coração, não sou cérebro não, meu bem. não sei o que se passa com os outros. se estivesse doendo por aqui eu falava. mas ainda não apertou nada.
tem certeza?
absoluta.
ai meu deus... preciso de ajuda.
vai dormir. quem sabe assim os que tão com defeito por aqui se ajustam e acordam melhor amanhã?
é, pode ser... mas não sei se vou conseguir.
fecha os olhos, que já já o cérebro desiste, moça. e eu continuo aqui, nesse trabalho escravo. ai!
desculpa, desculpa.. prometo não incomodar mais. mas só procura saber quem tá com problema?
é você, querida, mas isso é óbvio.
não, não é! aqui fora tá tudo bem.. não é nada comigo. promete tentar descobrir?
prometo. mas já sabe que não há muito o que fazer então. isso deve ser coisa daquela tal alma.

vendredi, mai 28, 2010

guincho para hipérbatos

Eu teria. Teria reconhecido amor, dançado, feito poesia do pretérito imperfeito.
Feito do amor sincero, da poesia carnal - teria misturado nossa construção
embolado corpos, no silêncio do odor de nossas almas
pregado de você em mim e me reconstituído aos poucos.

Minha vontade nunca foi comportada
nunca hesitei com você, não houve pudor
desejo escancarado.
eu teria feito de amor.

o que faltara pra que o verbo saísse das mãos, moldando um passado?
não sei mais o que movimenta os trilhos
o que transfigura e configura a nova diferença.

que me faz por hora preferir assistir imóvel o movimento,
a corrida dos lobos por um eufemismo chamado objetivo.

meu lado é outro, me locomovo, movo.
pra onde foi a força da atipicidade nessa típica cidade?

teria dançado se força houvesse eu para hipérbatos.
não nos faça desistir.

traga-me um guincho.

mardi, mai 25, 2010

não me peça parar de sonhar

Foi bom e ruim. Aquela aproximação fere mas é viciante.
- tire o cigarro do bolso e vá completando viver -
se tem assim descobertas fascinantes que nada mostram além de racionalidade humana.
mas sim. em detrimento da nossa poesia. abandonou-a.
- fechou os olhos. pisou naquele cigarro que queimava a ponta dos dedos, mal sabia manusear -
não despeço-me jamais dos órgaos restantes, não sobrevivo na ausência de mim.
mas meu silêncio respeita decisões solenes, que fazer senão consentir?
- pensou, não hei de sujar-me fumando apenas um cigarro -
dei pedaços falsos, menti, para que pudesse assim manter-me em pé..

será o acaso da nossa dor, a separação do nosso ser.
não era dúbio, não existia.
- enquanto dava uma tragada ruim na qual buscava salvação, vinha a memória do que não existia. repito, não existia -
ele não poupou, não há sobra.
- transcendendo todo aquele complexo pensamento, vagou pelas calçadas -
aperte e solte ratos dentro do corpo, façam seu trabalho,
tanto nome me falta.
- senta e pede uma dose; tira um terceiro cigarro do bolso para submergir naquela fumaça -
ilusório. não se sabe salvar nem o si.
Nem às metades. não podemos medir.
  sabes parte própria? fizeram-na assim por motivos quais?

já não há mais ser.
Puro devaneio, nos labirintos.
sentimos o movimento interno, e a imagem nasce presa à pele.
e aí, vomita-se poesia, o espaço acaba, o corpo não permite.
- o garçom olha aquele ser debruçando-se abruptamente na mesa suja do bar, com um cigarro no canto da boca e escrevendo palavras efêmeras, amassava-as, jogava ao chão -
você também deseja, e essa luta é contraposta.
cilada adiada.
somos analogamente humanos, o sangue pulsa.
constrói perspectiva.
- pensar no que fazer naquele momento é inútil. diz para o garçom, só porque fui forte um dia guardei essa loucura comigo, ele ri -
sopro.

à parte as sensações físicas, buscam-se vestígios para unir.
já não se sabe por onde andamo-nos, desmontando.

não me peça parar de sonhar.

lundi, mai 17, 2010

Pecado. Quem é quem nesse mundo de pecadores?

Quem sou eu nesse corpo fraco de humano que peca? Que seres são esses que me olham e julgam pelo pecado. Qual pecado é maior ou menor, justificável ou perdoável, entendível ou repudiado? Falo assim; e o pecado de quem fere o pecador? Se quem fere o pecador é também humano de corpo fraco. Que como conseqüência peca.

Eu nunca posso acreditar que o ser é o que faz. Porque quem faz é o corpo, e o corpo é humano. Humano é pecado. Apaixonado. A alma é o que é o ser. E ela pensa e fala e compreende e sente. O corpo executa. Nem sempre conectando. Ninguém é ação. Não podem me fazer acreditar nisso. Nem que o que faz meu humano é pior do que o pecado humano alheio. Fere. Humanidade é desordem, humanos. Falta olhar o ser. Sentir.

Já descobriu-se de várias formas que o mais inteligente não é somente aquele que tira as melhores notas, que o desonesto não é simplesmente aquele que roubou o pão da padaria, e que o homem que trai nem sempre é o que não ama. Humano não pode julgar ser por motivo tal, então. Não podemos enxergar alma e agir como mediadores para verdades inegáveis.

Ser nenhum é somente o pecado que comete seu humano, tal qual ninguém é a habilidade afortunada. Há gente, acredito, que pode ser o que se parece ser. Mas gente de alma não. Quem contém alma não pode ser confundido.

Não me confunda comigo. Clarice dizia, não venho estampada no rosto; e completo agora: não venho definida comigo. Não venho estampada no convívio e nas atitudes. Não me venho estampada no palpável, tão pouco humano sou, tanto sou.

Quero paz.

Pecado... Quem é quem nesse mundo de pecadores?

mardi, mai 11, 2010

minha mala, eu e o desapego

"Eu penso que a gente só deve levar pela vida aquilo que de fato somos capazes de carregar.Eu gosto de levar gratidão, saudade, tesão, amor, uma dose de melancolia, sonhos possíveis para se acreditar e de repente, tentar realizar. O que me faz mal, tento tirar da minha bagagem, da minha mochila. Os relacionamentos que não deram certo, as pessoas que me fizeram sofrer, a cristaleira, o sofá, a indiferença, o descaso, o pó, a sujeira e outras coisas palpáveis, pessoas despresíveis...
Gosto de sentir o gosto das coisas, o lambuzar das mãos, o sabor do café.
Na minha babagem levo itens de uma mochila que pode ser facilmente esvaziada. Para mim, desapego não tem nada a ver com indiferença e sim com liberdade, menos a ver com descaso e mais a ver com respirar. Pra mim, desapego tem a ver com ser livre e mais a ver ainda com sentir com o coração inteiro, o nariz, os olhos, os dedos e as vértebras, igual eu sinto você dentro de mim..."

Bebel Mendonça.

Há tempos venho tentando me explicar sobre o meu desapego tão mal visto.
Sou liberta eterna e preciso sentir com todos os órgãos.
Completa.

lundi, avril 12, 2010

o que é certo e errado?
Rosa que por eles vivia num limiar arriscado
subjugando-se protegida por um elo forte consigo própria
não há nada que faça deter-se no racional da coisa
a moral era tão irracional que a mente aberta sempre vencia nos argumentos
já que fez, o jeito é fazer.
ela estava enfim transformando-se no que era
e o que seria aquilo tão imperfeitamente frágil?
era o sentir humano, o ser que fere e confusamente é também ferido
ela nem quer pedir perdão, age com honestidade sem a vergonha que a paralisava
encarar-se foi um passo
potencializar-se outro será.

jeudi, février 18, 2010

Depois de um filme desses... Nada que possa ser colocado em palavras desce. Você entenderia enxergando minha expressão, meu mais ínfimo olhar atordoado. Quem se transforma após assistir um filme, dançar com aquele instrumental enquanto trafega pela cidade, pelos jardins mais belos; quem por eternos segundos não consegue chorar com a tragédia, ou continuar a viver o cotidiano, há de entender.

É momento que não existe, mas que permite existir. Não é pensar, nem sei se sentir. É desordenar, e desligar. Aquilo atordoa, confunde, consome. Quer beijar com a solidão. E falar no vácuo. E a impossibilidade do paradoxo exibe permissivamente a realidade não vivida, levada. Pois se pensamento houver, acompanha também a angústia. E não. É isenção. De tudo.

Poderia transcrever todas aquelas frases. Tão pouco factíveis. Soltas, fragmentadas, ligadas. Mas não. Cada molécula de ar do espaço não preenchido fazia parte do belo da mensagem final. Não seria justo. Aquele francês que deixava de ser dito pra ser expresso por olhar. Água salgada de lágrima. E morte. Morte emocional.

Volto. Ainda atordoada. Isenta de pensamentos, mas não de sensações. Transformo-me em uma mistura de sensações. Coração acelera. Queria tanto só parar de sentir. Alcançar frigidez, sensatez. Ou não ser mais atormentada pelo meu ser. Mas a pior prisão é o si, não Juliette?

Filme: "Há tanto tempo que te amo"

mercredi, janvier 20, 2010

traiçoeira e vulgar, sem dono e sem lar... é aquela

É engraçado como a arma mais poderosa do ser humano, que faz com que pensemos ser quase impossível relacionamento afetivo e criação de vínculo racional com a isenção desta, pode ser também, num paradoxo elementar, uma fraqueza de nossa raça. Logo eu, tão apaixonada, rendida completamente às palavras, rendo-me também a dizer que o poder desses símbolos, pode trabalhar inversamente, agir contra nós.
Um abraço, um beijo, carinho, toque... Um olhar, o corpo amolecendo, uma rendição. Isso comunica. Isso é amor. E muitas vezes limitamos momentos com uma fala equivocada, ou apenas de interpretação dúbia. Há quem diga que se fere mais com palavras. E sempre esperamos ligações, cartas apaixonadas: comunicação objetiva, queremos ouvir o que tantas vezes fica óbvio. É ela que nos trai ao chamar um homem quando estamos aos braços de outro. Nos confunde e nos faz falhar com nós mesmos, quando estudamos e não conseguimos mostrar o que sabemos, ou apenas quando não conseguimos expressar o sentimento.
O limiar cada vez mais abstrato entre o certo e errado tornou a palavra um objeto ainda mais poderoso. Você fala algo no qual talvez nem acredite e é superiorizado; você com palavras muda a vida de alguém, diminui, reprime; com ela também é reprimido por um erro pequeno, ou por falar sem pensar. A comunicação racionalizou o homem, nos fez pensar mais e levou embora o primitivismo. Mas não solucionou problemas de comunicação. Parece irracional, mas sim: a comunicação não solucionou todos os problemas humanos de comunicação. Porque ser sincero é bom e ruim. Falar o que pensa é bom e ruim. Ser comunicativo é bom e ruim.
Há quem diga também que as tais palavras são mais inteligentes. Que o humano de Humanas é mais inteligente, pois estuda a relação, estuda o social. Por isso acredito que ferimos mesmo mais com a palavra: pela inteligência dela. Já vi vários homens por aí que já se atracaram por um dia e hoje são amigos. Nunca vi alguém que já se ofendeu, magoou o outro com palavras e não tenha deixado vestígios. Saber matemática não é bom e ruim, é só bom. Você sabe, é inteligente e pronto. Qual a desvantagem de ser bom em matemática¿ Em biologia¿ Mas com a palavra até a inteligência é pouco substancial. Você pode ser traído por ela. Você pode se tornar triste, ou enfraquecer. Além do mais, na questão fatídica, você pode ser um gênio da área de humanas, e não saber se comunicar, não saber escrever bem, e, portanto, não ser visto no meio como inteligente. Ao tempo em que pode nem saber geografia e conceitos importantes, e persuadir muitos com a palavra. Essa que move, desmove. Manda e desmanda. E, principalmente, une e desune.
Sendo assim, a palavra, mais do que boa ou ruim, é traiçoeira. Talvez seja esse o motivo de desequilíbrio nas pessoas intensamente ligadas a ela. O não saber lidar com algo tão poderoso, que define tanto. Um poder que é entregue todos os dias de nossas vidas em nossas mãos. Ficamos perplexos, desnudos; ficamos paralisados diante do efeito borboleta de uma palavra. Que pode ter mil significados, influenciar em mil coisas. Pode dizer demais. Mais do que deveria. Que pode magoar, que pode embargar de felicidade. Essa é a tal palavra, aquela que pode tudo.

mercredi, janvier 13, 2010

qual e a cor da sua namorada?

A menina roxa, que agora estava num período roxo-azulado que não era bonito, mas encantava por ser pouco desvendavel, incitava novos pensamentos, já não conseguia mais adormecer com satisfação. Havia sempre aquele sentimento rodeando. Um sentimento de não aquisição do que realmente deveria ser alcançado. Mas não há o que se possa fazer em mais uma madrugada bípede. De dois membros anteriores opostos, que divergiam entre si, um brigando por momentos, sensações, enquanto o outro raciocinava e sofria de morbidez não humana. Era mais uma daquelas madrugadas que poderiam simplesmente sumir do mapa. Serviam apenas de atormento sobrenatural. Rosa foi percebendo que estava quase retomando a sua cor negra. Chega. Ela não queria.
Começa a passear por sua playlist. Aquelas musicas eram dela mesmo. Mas pra que? Ela estava coberta pelo maior sentimento de deslocamento que já havia passado. Pesava manobras para fugir do altruísmo exagerado mais uma vez. Mas era quase fatídico. Alias, completamente. Outro aspecto interessante era que, apesar de personagem inegavelmente dissemelhante, a menina se conturbava tão facilmente com as opiniões ignorantes dos usuais. E parava e refletia, remoendo-se. Eram julgamentos baseados em preceitos tão antigos, tão inaceitáveis. Era tanta hipocrisia. Mas era involuntária que Rosa enchia seu peito de duvidas e angustias. Não era justo. Mas era o preço a se pagar por sua percepção inigualável e seu belo perene.
Ela se incomodava com diversos outros pontos. A jovem havia arranjado um namorado, um namoradinho bom. Ele se tornara um desafio intrigante, possivelmente promissor. Ao estar lilás, amava firme, era quase dependente. Agora, escura, caminhava com dificuldade. Será que haveria ele de entender? Ela estava abstendo-se de pensar. Lia algo e não interpretava, buscava escrever de maneiras diferentes, mas parecia tudo tão igual. Tão nu, sem talento. Rosa pensava em suas amigas. Pensava no quanto não se sentia bem ultimamente com elas. Não era culpa dela. Não era. Ela tinha certeza que o mundo estava o contrario e ninguém havia notado. Ela ia começar outro dia da mesma maneira. Ia dormir, ter pesadelos, acordar, ir ao medico, ver o namorado, ócio, ócio, ócio, mente fraca e continuação vital. (?)