mardi, février 15, 2011

sobre o movimento

Uma fotografia. Cenário perfeito. Único espaço ensolarado, dando vida àquele gelo. Táxi amarelo, desses cor mostarda que lembram Inglaterra, um pombo curioso. Poesia, sentimento. Aquelas imagens cruzavam-se, encaixando. Pegava minha câmera. Tarde demais, o pombo voara. Bom fotógrafo aquele que, não só possui a percepção, também está sempre preparado. Acabou. Deu-se fim à poesia, àquele cenário mágico. Mais a frente um novo canto de sol, um táxi, um pombo. Não adiantava. O olhar do pombo já não me era o mesmo, o ângulo com que os raios chegavam à rua não encantava. Arte não se repete.

O texto que se fazia em minha mente durante o ônibus de antes era mais real e poético. Faltou papel e caneta.

lundi, août 02, 2010

minha dança

Quando a gente se dá conta que às vezes quem se esquece do jantar somos nós...
num descompasso entre sonho e luta, obviamente que o final não seria o que se espera

enfraquece-se na dificuldade;
nos devaneios encara-se bem todo obstáculo e danço feito poesia
Aquele era meu único amor real. ali.
quando desisti do sonho poético que me fazia nascer a cada momento,
desmontei-me e criei a impossibilidade de amar.

Agora anda-se devagar, nos caminhos de frustração
entende-se aos poucos o significado de invejar, tão fraca sou
desisti de um sonho que movimentava, em todos os sentidos

A parte de mim que encantava voou
minha perfeição já não sei criar
todos os artifícios para te ganhar
jogaram fora, as artes, as partes
de que tudo tinham para dominar-te

fui entregue então como marionete
para jogadores fortes que tinham a arma do tempo
quase nunca tem-se tudo

Joguei fora tudo de belo que possuía minha alma.
Joguei fora tudo que completava meu ser;

Restei de morbidez.
Morbidez paisagem.

jeudi, juillet 15, 2010

Porque aquele é o momento em que acabavam as tentativas de união.

Acabam as possibilidades de sangue frio.

Se quer toda a efervescência desequilibrada da madrugada.

Toda a guerra de segundos para falar aquilo que nem se pensa. Não sabe nem se sente.

Só incita, só provoca. Quer ver sangue.

Mas ainda covarde, esconde-se nas madrugadas.

Como ousa?

Como ousa me abandonar mais uma vez?

Pior.

Como ousei deixar -me abandonar novamente?


na madrugada todo mundo pode tudo.

mercredi, juillet 14, 2010

Ela fez cinema




"Ela não tem amigos. Vive de rascunhar roteiros de um filme com final infeliz. Seus amores são cenas mal cortadas, seus atores se vestem mal e declarações pessoais não passam de diálogos sem improviso. Ela não tem ninguém. Suas poesias andam sem rima, sua música ficou instrumental e suas crônicas são sobre o impossível. Largou o cigarro e isso a tornou mais chata do que a própria ignorância que ela mesmo estabeleceu por querer amar demais. Como se ignorância fosse amor. Pudera, quem vive de cinema escolhe a sua própria tragédia. E a dela foi ser incompreensível como mulher. Ou uma doméstica de pornochanchada."


Marcelo Mayer

vendredi, juillet 02, 2010

Rosa era de pouca inteligência.
Escutava sempre o que tinham a dizer, e com suas poucas informações ia construindo pensamentos pra quando chegasse para arrumar a casa.
Fazia faxina às terças e quintas na casa de uma senhora bonita, madame meio viúva, que se encontrava com moços estranhos.
A madame tinha várias amigas, e dentre elas, uma ruiva estranha que estava sempre a sua casa, sassaricando e atrapalhando-lhe o serviço.
Ouve as duas mulheres, que, ao trocar palavras, gritavam, isso que tanto a Rosa irritava.
Diacho de velhas que gritavam.
Rosa era humilde mas não falava alto não.
Ela era toda receptada em sua fragilidade.

'Pois não, Bela, se aquela mulher de pouca fé não andava de falâncias sobre sua pessoa por aí.. numa falsidade só.'
Subira rapidamente à cabeça de Rosa aquela reclamação aparentemente tão repleta de lógica.
Mas guardou como dever de casa. Não conseguia fazer duas coisas ao mesmo tempo.
Aquele assunto renderia na arrumação do dia, pois já cutucava a moça, que não conseguia pensar em outra coisa.

'Rosa, menina, se quebras outro vaso meu ponho-te para fora! E dessa vez, cumpro, vice? Tiro de seu salário esse'
Era por isso que a faxina não podia ser atrapalhada por devaneios.
Que raiva tinha ainda daquela madame desocupada que só sabia falar alhos alheios.

Foi terminando o serviço, caprichou em tudo e pegou suas economias de muito tempo que estava para comprar sapatos novos, rasgados que estavam.
Não, fazia parte da construção daquele dia único o pagamento de toda e qualquer dívida com aquela velha mal criada.
Seu pensamento dali em diante devera fluir somente para a irracionalidade das mulheres que conversavam naquela tarde.
Ela precisava pensar sem que interferência alguma houvesse. E, portanto, foi pagando tudo, o que assustou a patroa.
'Patroa não, faxineira que sou...Trabalhadora liberal. E esse dinheiro tenho guardado. Pegue logo senão não hei de pagar. Procurarei outra residência, não de voltarei mais a esse lugar'

Quando fechou os olhos, minutos antes de sair da casa que despertara tamanha mistura de sentimentos, Rosa imaginou fumaça
Desejava um cigarro, achava aquilo tão chique, seu pensamento pobre sairia daquela maneira um pouco mais importante.
Sentou-se na rede limpinha de sua casa - não tinha de fazer, lavava tudo.
E começou a refletir sobre aquela palavra ainda pouco estudada: falsidade.

Tão teoricamente lhe aparecia a ideia de que só aquilo construía a rápida felicidade, que faz a nós capaz de suportar a vida
nos dá ilusória perspectiva de um relacionamento não extraviado, mas viado duplamente, como numa métrica musical soante.
Aquilo que quebra todos os paradigmas e nos proporciona a necessária segurança de que precisamos em determinados momentos da vida.

Quando vem a nós a verdade, que esta má, fere à frio, estamos lá, postos a reclamar da falsidade.
Única que, há pouco, nos deu aconchego ao coração para que aguentássemos a lástima férvida da vida.
Parecia-lhe tão óbvio. Assim como que fumar houvera feito causado uma terrível doença de tosse. E rápida.

Ora, se para reclamar do que nos faz continuar deve haver sentido grande...

Assim terminava seu breve devaneio diário.
Rosa pôs-se a jogar fora aquela caixa de cigarros mas hesitou.
Prudente que era, guardou em seu armário, custara-lhe dinheiro.
Tentaria elevar-se outros dias com aquela sórdida companhia da fumaça rica...